JOÃO PEDRO
SILVA

Construção de uma imagem (compositing)


Selma, 2014

É sempre entusiasmante quando regressamos às fotografias que registámos há uns tempos atrás e descobrimos uma que nos atrai de forma diferente e de que gostamos bastante. Questionamo-nos como é que aquela fotografia “nos escapou” ou porque é que não a marcámos como uma imagem para posterior análise e o devido tratamento digital. Bem, isto acontece-me com regularidade e é um hábito pessoal. Um dos procedimentos obrigatórios na minha análise e interpretação das imagens passa por um “afastamento temporal” em relação aos trabalhos fotográficos que realizo, porque desta forma tenho a oportunidade de, mais tarde, e que podem ser semanas ou meses, visualizar as imagens com um “novo olhar” e abstrair-me das condicionantes intrínsecas e extrínsecas que me conduziram a registar aquela imagem. Desta forma, tenho a oportunidade de descobrir algo de novo e de fazer outra interpretação crítica. É quase como se existisse um “renascimento” da imagem, e ali está ela para ser contemplada com uma nova visão.

Fotografei esta imagem no passado mês de Abril, aquando do evento da Fotosession em Belmonte. Na tentativa de “chamar” pessoas para assistir ao evento, andei pela vila a fotografar modelos e eis que me deparo com umas rochas que se elevavam aos céus e pensei, naquele momento, que seria um óptimo enquadramento para ter um background “limpo”, simples, neutro, com a possibilidade de introduzir espaço negativo e que fizesse destacar o semblante da modelo. Contudo, e apesar de estar um céu nublado, não havia muito dramatismo (algo que gosto de acrescentar às minhas imagens), ou seja, havia apenas uma mancha de cinza, contrariamente à “qualidade” do céu do dia anterior, que tive a oportunidade de fotografar quando fazia o reconhecimento do local onde iria fotografar.

Nos últimos tempos, tenho seguido de perto o trabalho de Erik Almas, um fotógrafo norueguês sediado em São Francisco, nos Estados Unidos. Erik é conhecido por ser um especialista na arte de compositing, isto é, a combinação de duas ou mais fotografias para alcançar um resultado final. Aconselho vivamente a apreciarem e estudarem o trabalho enorme deste fotógrafo, porque cada fotografia do seu portfólio é um regalo para os olhos :-). Erik tem uma máxima: Não te limites a “tirar” uma fotografia. Constrói uma fotografia. E é desta forma que cada imagem que ele realiza tem o propósito final de construir uma única fotografia.

Recuperando a minha experiência com o trabalho realizado em Belmonte, e depois de ter realizado duas fotografias distintas, uma delas com uma pessoa, e a outra com o céu, questionei-me: E se?
O compositing nunca fez parte da minha abordagem criativa, mas depois de seguir mais de perto o trabalho de Erik Almas, o seu blog e o seu DVD instrutivo, achei que seria uma boa oportunidade de experimentar e o resultado foi muito agradável. Na verdade, a primeira imagem registada, a do céu, foi com o intuito de a utilizar como background mais apelativo numa fotografia final, mas estava longe de pensar que seria combinada com uma imagem registada no dia imediatamente a seguir :-).

Apesar deste compositing ter sido relativamente simples, são estes “e se?” que nos levam a arriscar mais e a progredir na nossa visão criativa.

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